Intrigante e cheio de reviravoltas, As Linhas Tortas de Deus é o novo filme espanhol da Netflix que vem surpreendendo o público há vários dias na plataforma.
O longa conta a história de Alice (Bárbara Lennie), uma investigadora que se infiltra em um hospital psiquiátrico com o objetivo de encontrar respostas para um suposto assassinato. Ao longo da história, no entanto, a sanidade da protagonista começa a ser questionada já que há indícios indicam que a história que ela está contando pode não ser exatamente o que parece.
As Linhas Tortas de Deus é baseado em uma notável obra literária espanhola, escrita por Torcuato Luca de Tena, e lançada em 1979.
Para além do enredo cheio de mistério e surpresas, algo que chama muito a atenção na história é a forma como os pacientes da instituição são retratados. E a veracidade dessas representações são resultado do intenso “laboratório” ao qual o autor do livro se submeteu para poder escrever sua narrativa da forma mais fiel possível.
Não entendeu? Se liga nos próximos parágrafos que a gente te explica melhor essa história.
Torcuato Luca de Tena decidiu ter experiência intensa para escrever seu livro
Los Renglones Torcidos de Dios (nome original com o qual o livro de Tena foi lançado na Espanha) se tornou um verdadeiro marco da literatura espanhola. E apesar de seu apenas um romance sem cunho científico, mesmo alguns especialistas em psicologia e psiquiatria, consideram a obra importante para entender mais da realidade em que pacientes de sanatórios viviam em décadas passadas.
Considerando que o prólogo do livro foi escrito pelo famoso psiquiatra Juan Antonio Vallejo-Nágera, é fácil entender porque a obra possui tanto prestígio.
Essa aclamação não é sem precedentes já que para escrever o livro com fidelidade ao assunto ao qual queria tratar, Luca de Tena se internou voluntariamente em um hospital psiquiátrico.
O Hospital Conxo, localizado em Santiago de Compostela, foi a instituição escolhida pelo autor para fazer seu laboratório.
Por lá, o escritor viveu em meio a pacientes psiquiátricos com diversos tipos de enfermidades mentais. Dessa forma, segundo relatos do próprio autor, durante a estadia, ele tentou viver da forma mais parecida possível com os pacientes.
Assim, da mesma forma que os “loucos” do lugar, Tena se submeteu a várias das atividades diárias dos internos, vivenciando ao lado de médicos, enfermeiros e cuidadores o cotidiano de doentes de todos os tipos.
Segundo a biografia de Torcuato Luca de Tena, alguns dos pacientes que conheceu durante sua estadia no hospital lhe serviram como inspiração para criar alguns dos personagens mais importantes de seu livro.
Apesar disso, no prefácio de As Linhas Tortas de Deus é explicado que o autor não usou os mesmo nomes, sexo ou mesmo local de origem desses pacientes em sua obra. Com isso, pode assumir liberdades criativas sem arriscar expor as pessoas reais que lhe serviram como base.
Torcuato dedicou o livro aos profissionais de psiquiatria
A experiência vivida por Torcuato Luca de Tena foi intensa e cheia de aprendizados, e segundo o autor, sua admiração pelos profissionais de medicina aumentou muito após tudo isso.
Dessa forma, nas primeiras páginas de seu livro, o autor dedica seu romance à médicos, enfermeiros e outros profissionais que se dedicam a cuidar dos tipos de doentes com quem ele mesmo conviveu.
“As linhas tortas de Deus são, de fato, muito tortas. Alguns homens e mulheres exemplares, tenazes e até heróicos, tentam endireitá-los. Às vezes eles entendem. A profunda admiração que seu trabalho produziu em mim durante minha internação voluntária em um hospital psiquiátrico aumentou a gratidão e o respeito que sempre experimentei pela classe médica. Assim, dedico estas páginas aos médicos, enfermeiros e enfermeiras, vigilantes, zeladores e demais profissionais que passam a vida no nobre e dedicado serviço dos mais infelizes erros da Natureza.”
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